E nasce o sol, e põe-se o sol, e volta a seu lugar, de onde nasceu.
Eclesiastes, 1:05
Adrovando Claro (Natal, 1964), professor de artes e desenhista, fotógrafo da Assessoria de Imprensa, fez o curso de Educação Artística (1984). Uma das capacidades do artista é a familiaridade com o nu feminino. No material que me consta, encontra-se três mulheres seminuas e três completamente nuas. Seu traço, ao desenhar o corpo feminino, é de grande maestria, expondo todos os detalhes do corpo, fazendo-o um exímio desenhista. Isso se comprova por meio das mulheres nuas em diversas posições.
Seu manuseio com o desenho foi precoce em tudo. Desde criança, gostava muito de desenhos em quadrinhos. Em suma, seu pendor para o desenho pulsava no íntimo desde muito pequeno. Quando matriculou-se no ensino formal, já detinha uma noção básica de leitura. O amor à gramática e o que ela podia veicular já despertava cedo das entranhas. Logo soube a função da língua, com sua respectiva gramática. Paralelamente a isso, as revistas em quadrinhos também o conduziam para uma forma de arte não verbal, na qual dois sistemas semióticos estavam imbricados: a língua natural (Linguística, digital) e a semiótica (Signo analógico).
Um dos desenhos mais caprichosos é uma série de seis mulheres. Três estão vestidas, como se tivessem feito poses para a elaboração dos exímios contornos. Revela um desenhista de fino lavor na sua simplicidade. A linha circunscreve um risco onde existe somente uma curva. No que diz respeito a essas três mulheres despidas, parecem ter o objetivo de conduzir um observador a contemplar o nu feminino de todos os lados: de cima, de frente, de lado, tendo como ponto de partida a fotografia. É bom lembrar que o artista fez um curso com a pintora Madé Weiner, com modelos nus (anos 1990).
Assim sendo, eis as mulheres em um anonimato no qual valem por si mesmas e não por uma leitura pornográfica, na medida em que o fato de estarem despidas não invalida a admiração pelo capricho do desenho, pelo que vale de arte, e de um corpo elaborado, sem pudor, mas nem por isso desloca-se do traço artístico, detendo-se o olhar do espectador em um todo dizendo que está perante uma obra de arte.
Tudo o que foi dito, no sentido de um domínio do desenho, vale para os desenhos daqui por diante. Falemos dos quadrinhos. São elaborados para leitores em inglês, espanhol e francês, assim como de uma feitura colorida que narram bailes de carnaval. Até parece que foram feitos não para brasileiros, mas para estrangeiros.
Seria bom pensar da seguinte maneira: o que ganhou em cores e beleza dos desenhos, perdeu no excesso de caricatura, como se fosse uma festa devassa, na qual a mulher exerce a função da vulgaridade e da ausência de compostura e um tanto de pudor. Provavelmente, deve ter sido uma encomenda para ser visto nas línguas que as personagens falam. Não é de se admirar. Os quadrinhos beiram a sua realidade.
Vejamos as fotografias. Creio que é onde Adrovando se sai melhor como artista visual. As duas fotos dos “Cão” são primorosas, os homens fantasiados com a lama se confundem com a paisagem, com o solo e todo o seu entorno, sendo que se destacam como personagens do plano de fundo que se confunde com o firmamento. Está tudo tão bem preparado para a pose da foto que não há quem diga que não são integrantes da paisagem, e nunca uma troça carnavalesca surgida de pessoas modestas.
Talvez se pensasse que nada duraria, apenas um ano, assim como o carnaval. Acontece que emplacou e hoje é um evento do calendário dos eventos de Momo. Outra foto dos “Cão” é de uma performance sem igual. No primeiro plano, ergue-se um homem de costas, como a fazer um contraste ou alguém que lidera o enorme grupo de mulheres e homens. A foto é bastante simétrica. Inicialmente o solo mais claro, o grupo no meio e acima de tudo, o firmamento em branco.
Por fim, gostaria de dizer da melhor foto do conjunto. São estacas que se erguem à beira-mar, em uma delas encontra-se uma corda enrolada, provavelmente instrumento de trabalho. Do lado direito, um pequeno barco ancorado com dois homens conversando, também aparecem as cordas enroladas. Apenas o barulho das ondas do mar quebra o silêncio de uma paisagem em que ninguém pode ouvir o que se passa.
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