Por Rosinaldo Vieira, editor da Gazeta de Macau
Na tarde de um sábado, tive o prazer de visitar a residência de José Domingos, reconhecido como o maior colecionador de revistas em quadrinhos de Natal. O ambiente é impressionante: uma sala repleta de armários abarrotados de revistas raras e icônicas, que marcaram gerações. Entre edições históricas de heróis consagrados e mangás contemporâneos, José compartilhou sua paixão de décadas por esse universo.
Rosinaldo Vieira: Como começou essa paixão por quadrinhos e sua jornada como colecionador?
José Domingos: Tudo começou na infância. Minha mãe trazia revistas do trabalho, como Mickey, Tio Patinhas, Pato Donald e Zé Carioca. Foi ali que despertei o interesse. Com o tempo, fui me encantando pelos super-heróis. Lembro da fascinação ao ver edições da Marvel e DC nas bancas. Meu pai não comprava, e aquilo ficou como um desejo reprimido. Quando adulto, decidi realizar esse sonho e comecei a colecionar. Hoje tenho um acervo com títulos como Tex, Super-Homem, Batman, além de mangás e clássicos como Zagor e Ken Parker.
Rosinaldo Vieira: E entre as edições mais antigas, qual você destacaria?
José Domingos: Uma das mais especiais é uma edição de Super-Homem, publicada pela Ebal, que conta a origem do herói e a destruição de Krypton. Lembro de ter sete ou oito anos quando li. Apesar de estar bem velha, ainda a mantenho conservada como um tesouro.
Rosinaldo Vieira: Quantas revistas você tem atualmente? De que épocas são?
José Domingos: Meu acervo ultrapassa 12 mil revistas. Tenho edições que datam das décadas de 1940 e 1950, muitas dos anos 1960, 1970 e 1980. Possuo coleções completas de títulos como Super-Homem, Heróis da TV, Super Aventuras Marvel e Super Almanaque do Homem-Aranha.
Rosinaldo Vieira: Como colecionador de Tex, gostaria de saber: o que você tem desse personagem e qual sua visão sobre ele?
José Domingos: Tex é um dos meus favoritos. Tenho a coleção Gold, que forma um mural incrível – faltam só quatro edições para completar. Também possuo as edições de luxo, Tex Ouro (até o número 100), Tex Gigante e Tex Willer, que mostra o personagem mais jovem. O que mais admiro no Tex é o senso de moral e justiça que ele transmite. Ele ensina valores como dignidade, bondade e o julgamento justo do caráter das pessoas. É um exemplo que vale passar para as novas gerações.
Rosinaldo Vieira: Como você adquire suas revistas? Usa internet, sebos ou compra diretamente de colecionadores?
José Domingos: Comecei comprando em bancas, mas logo migrei para os sebos. Vivi em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, e sempre que viajava, buscava sebos locais. Algumas raridades, como edições de Flash Gordon, foram adquiridas em locais distintos. Também participo de grupos de colecionadores na internet, onde há leilões e trocas. Recentemente, consegui uma edição rara de Shazam por meio de um leilão online.
Rosinaldo Vieira: Qual é sua opinião sobre o futuro das revistas em quadrinhos físicas diante da digitalização?
José Domingos: Acredito que as HQs físicas não vão desaparecer, mas o colecionismo será mais específico e restrito. A experiência de folhear uma revista, sentir o papel, ainda tem valor para muitas pessoas. Embora a tecnologia ofereça alternativas, o legado de grandes criadores como Stan Lee e Giovanni Bonelli permanece insubstituível. As bancas podem desaparecer, mas lojas especializadas e plataformas digitais manterão o mercado vivo.
José Domingos é um exemplo de como a paixão por quadrinhos atravessa gerações, preservando histórias que encantam leitores e colecionadores em todo o mundo.
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