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A ESTRADA DO FIM DO MUNDO

Eis que estavam extasiadas de alegria, vendo o mundo aos seus pés, sem lenço e sem documento como dizia uma antiga canção.

20/02/2024 às 10h35
Por: Adrovando Claro
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 A ESTRADA DO FIM DO MUNDO

Por Maria Tereza Barreto de Oliveira

As crianças, sempre curiosas brincavam em um pátio atijolado na vila, era
a meninada de toda aquela rua comprida, cheia de casas, cada uma delas
movimentada pela alegria infantil.
Chegando às 09:00 horas, as mães de um lado e de outro das casas saíam
à porta e sempre recolhiam suas crias dos folguedos, a gurizada era chamada
aos gritos, por nomes ou apelidos, justo para a hora da merenda. Sibiletti e
Lola estavam sempre juntas, eram vizinhas e amigas desde os tempos das
mamadeiras, se sentiam univitelinas de tão irmanadas. As pestinhas não
responderam aos chamados das suas genitoras, se esconderam, fizeram -se
de surda, e mudas permaneceram, continuaram brincando, e foram se
afastando da vila. Elas não queriam lanchar, a brincadeira parecia está muito
divertida, pois o entretenimento era tanto que nem fome sentiram.
Quando se deram conta estavam próximo ao parquinho da vila, onde tinha
um pequeno jardim. De súbito, eis que surge uma borboleta grande, meio
dourada e azul metálica, bem vistosa com um farfalhar de asas que era um
fenômeno. As meninas decidiram parar para conversar com a voadora. Sibiletti
muito esperta se dirigiu para próximo do inseto brilhoso e perguntou: Ei
borboleta, é bom voar? Enquanto isso, Lola ficou tentando escutar a resposta.
A borboleta olhou para as crianças e indagou-as: Por que vocês são tão
curiosas e me perguntam logo sobre meu modo de locomoção? Me perguntem
primeiro como eu estou? Me deem um bom dia? Mas tudo bem, irei responder!
- Ah Ah Ah ... eu vivo feliz, e pouco uso os pés no chão. Como deve ser
monótono viver como vocês! Nunca saem do plano terra, exeto pelas asas de
um avião ah ah ah..., eu com estes pares de asas bonitas e perfeitas, vou a
qualquer lugar, e em frações de segundos!
- Saltito sobre alamedas de árvores frondosas, ruas, lagoas e assim conheço o
mundo. É maravilhoso voar! As meninas ficaram boquiabertas e Sibiletti muito
séria olhou para a borboleta e falou:

- Menina voadora, como não podes me emprestar seus pares de asas
reluzentes porque não nos convidas para darmos uma volta contigo? A
borboleta não bateu asas de dúvidas e logo disse:
- Pois bem, se deitem sobre meu tórax, fechem os olhos, só abram quando eu
mandar e assim levarei vocês duas para bem longe, cada uma deitada sobre
meu forte dorso, estrutura delicada do meu leve corpo que o ar me presenteou.
Eis que assim as meninas obedeceram ao pedido da borboleta, e em seguida
já escutaram a voz do inseto:
- Meninas abram os olhos!
As meninas não acreditaram no que estavam vendo e sentindo. Sentiam
uma espécie de hipnose que tomava conta delas, pois mesmo depois de
abrirem os olhos, tinham a sensação de uma ligeira sonolência, mas logo em
seguida sentiram também uma sensação de prazer por estarem nas alturas e
logo ficaram bem despertas com o clarão do sol já alto, pois já se aproximava
das 11:00 horas da manhã. Voaram e voaram... já próximo do meio dia viram
as ondas altas em um alto mar azul esverdeado forte, uma paisagem linda, de
doer os olhos de tanta luminosidade e cor.
Eis que estavam extasiadas de alegria, vendo o mundo aos seus pés, sem
lenço e sem documento como dizia uma antiga canção. Assim esqueceram
completamente suas casas e os cuidados das mães bondosas, esqueceram da
merenda das 09:00 horas. Eis que de súbito Lolo sentiu fome e pediu que a
borboleta descesse para procurarem alimento. O inseto não hesitou, fez uma
curva aberta e retornou a terra pelo lado de um promontório escarpado
pairando em um belo jardim cheios de mussambês, alguns lírios de São Miguel
e trepadeiras de flor de cera e outras florzinhas rasteiras. O ar estava muito
perfumado e as crianças encantadas.
Dona borboleta procurou a casa das suas amigas abelhas e trouxe dois
grandes favos de mel para as meninas. Elas se deliciaram e labuzaram com
aquela guloseima da natureza, depois tomaram água fresca de uma cachoeira.
Aquele lugar era o fim do mundo, de beleza rara, principalmente para quem
nunca tinha saído da sua vila, e que de forma muito rápida se chegou pelas
asas de um delicado inseto. Como seria bom ter um par de asas, onde as
estradas para chegar ao fim do mundo, seria de fácil acesso.

Pobre de nós homens, pensou Lolo, não possuímos um par de asas, o que
nos deixaria mais leves e ágeis, mas também pensou em casa e em seus pais
que deveriam estar preocupados. Foi quando pediram a borboleta para
retornarem as suas moradas, e de pronto foram atendidos. Quando chegaram
am casa, já era meio da tarde, e das alturas se via a vizinhança chorando pela
calçada a procura das meninas desaparecidas. Como em um passe de mágica,
a borboleta pousou sobre a copa de uma frondosa árvore, deixando as
garotinhas lá no alto. As meninas gritaram, avisando que se encontravam alí.
Um menino robusto subiu pelos galhos resgatando as duas meninas
sapecas, os pais aflitos pegaram -as pelos braços e levaram para suas casas.
Após uma série de perguntas, as crianças não ousaram contar a viagem ao fim
do mundo, porém em vez disseram em voz alta como previamente
combinaram:
- Subimos na árvore e adormecemos, em seguida pediram desculpas aos pais
e vizinhos, pois denotaram o transtorno que causaram à população.
Lola esperta disse:
- Acho que sonhamos com o fim do mundo, onde nunca poderíamos ir, mas era
lindo, azul e verde, e uma borboleta nos deu carona no nosso sonho, aqui
nossa rua é sem cor e vida, e lá pudemos ver muitas belezas naturais, agora
acordamos desse sonho e só agora escutamos vocês.
Os pais e amigos estavam felizes e se preparavam para um pequeno
lanche, os meninos foram aconselhados para nunca mais fugirem de casa ou
saírem sem avisar, nem muitos menos deixar de falar a verdade, pois o mundo
cada dia é mais perigoso, a violência chega às nossas calçadas e nem sempre
existem borboletas verdadeiras para carregarem crianças sobre o dorso do seu
tórax de modo seguro, as crianças devem ser bem guardadas, o lobo mau
existe desde que o mundo é mundo , não só reside nos interiores mas hoje
veio morar nas cidade maiores e nas vilas. As crianças devem sonhar, devem
passear, devem brincar na rua, porém de olhos bem abertos, e atender os
chamados de casa para uma melhor proteção dos ricos à a vida infantil.

Dra. Maria Tereza Barreto de Oliveira

Professora Titular aposentada da disciplina de Microbiologia do Departamento
de Microbiologia da UFRN

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